Lembro que o meu primeiro contato com a fotografia foi desde muito nova. Minha mãe fazia álbuns e álbuns da minha vida contando nossas historinhas e ilustrando com as fotos. A fotografia me fazia (e faz) imaginar momentos que não lembro de ter vivido, mas estava lá, fazendo caretinhas e poses variadas.
Ainda criança (8 anos), fizemos a primeira grande viagem da família para Vitória e Guarapari – Espírito Santo. Com essa idade já tinha memória fotográfica, recordo nitidamente a viagem pelos lugares onde passei, não queria perder nada, todas as paisagens, todas as pontes, o mar, ah o mar! Essa memória cresceu tanto que eu passava a identificar os livros didáticos pelas páginas e fotos dos assuntos. Os de história eram os meus preferidos, viajava naquelas imagens, me tele-transportava.
Até os dezesseis anos meus olhos que tiravam fotos, as máquinas analógicas eram caras. Crianças, muito menos adolescentes, não podiam ficar brincando com elas por ai, queimava o filme e já viu, perdia todas as fotos (bronca na certa). Quando fiz dezesseis, meu pai ganhou uma máquina digital de 3.2 mega pixels, me descobri naquele aparelhinho simultâneo. Era maravilhoso ter a possibilidade de registrar tudo que os meus olhos enxergavam. Guardar os momentos e futuramente, voltar e revive-los, era um sonho se realizando.
Desde então a minha paixão por fotografia foi se aprofundando. Comecei a fazer dessa prática uma autobiografia, conseguia me encontrar em cada detalhe sutil e despercebido dos momentos. Como foi prazeroso descobrir minha forma de ver o mundo e me satisfazer com isso. A paixão pelos registros me ajudou na escolha do curso de arquitetura, amava ver a cidade, perceber como as pessoas se comportavam nos espaços que elas ocupavam, tanto públicos quanto privados.
A arquitetura me ajudou a entender cada elemento daqueles espaços meus, criados simultaneamente por cliques rápidos e decisivos. A partir de então não me vejo sem meus olhos mágicos, minhas “máquinas”, companheiras inseparáveis, reprodutoras da menina dos meus olhos, do meu EU mais profundo, mais sensível, silencioso, simbólico.
Enfim, ainda me sinto tão viva e enquanto viver, deixarei minhas marcas, na esperança de eternizar, aos que eu mais amo, o meu sincero existir.
(...)E de repente, sim, ali estava a coisa verdadeira. Um retrato antigo de alguém que não se conhece e nunca se reconhecerá porque o retrato é antigo ou porque o retratado tornou-se pó. (…) Para se ter uma visão, a coisa não precisava ser triste ou alegre ou se manifestar. Bastava existir, de preferência parada e silenciosa, para nela se sentir a marca. Por Deus, a marca da existência… É que a visão consistia em surpreender o símbolo das coisas nas próprias coisas. (…) Clarice Lispector em Perto do coração selvagem [Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986].
Fotos da autora em http://www.flickr.com/photos/ondeandei/
Lana Costa
Fez seu auto retrato! não poderia ser sem sua velha amiga que já ate faz parte de ti. Linda! orgulhinho de você!
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